Fundação Comendador José Nunes Martins (UAI)

A criação da Fundação José Nunes Martins tem o nome do seu fundador e remonta a Novembro de 1951, através da aprovação dos seus Estatutos, tendo sido posteriormente inaugurada a 1 de Novembro de 1958, ato solene que contou com a presença de autoridades civis e eclesiásticas e militares, como sejam a participação do Ministro da Saúde — Dr. Martins Carvalho, Waldemar Costa, Negrão, o Ministro da Defesa Júlio Botelho.

A obra foi realizada sob o projeto do Arquiteto Carlos Ramos — Diretor da Escola Superior de Belas Artes, do Porto e amigo dos ilustres Arquitetos Niemeyer e Keil do Amaral que juntamente, com jovens arquitetos criaram novas tendências na arquitetura contemporânea. Neste sentido o edifício da Fundação é um ícone desta época.

Os trabalhos de preparação do terreno e o lançamento da primeira pedra tiveram início em maio de 1955 e progressivamente avançaram, mesmo com a grandiosidade da obra.

O Comendador José Nunes Martins foi o grande mecenas deste projeto e acompanhado pelo Dr. Luís de Almeida Melo, indivíduo culto e com conhecimentos que ajudaram a erguer esta instituição. Uma vez concretizada a obra, a inauguração constituiu um evento histórico, na Vila, com a presença das personalidades referidas. Posteriormente o Presidente do Conselho de Ministros — Doutor António de Oliveira Salazar, demonstrou o seu elevado interesse pela instituição e pela obra que assumia uma grande importância no interior do país.

O projeto da Fundação reuniu ainda outra personalidade das Belas Artes, o pintor Jorge Pinheiro, ainda jovem estudante, mas autor dos magníficos painéis do interior da Capela. Nascido em Coimbra e formado no Porto integrou o grupo dos "Quatro Vintes", assim denominado pela classificação que atingiram — 20 valores (Ângelo de Sousa, José Rodrigues, Armando Alves e Jorge Pinheiro).

Desde a sua inauguração, até aos anos 90, esta instituição contou com serviços de saúde qualificados, no qual eram garantidos: Hospital, Urgências, internamentos, tratamentos, consultas, partos e raio X.

No piso inferior existiu uma creche e funcionaram pequenos cursos de carácter doméstico.

A capela e torre está anexada ao edifício, mas com ligações arquitetónicas subtis, como sejam passadeiras de pedra, no solo, e uma simples estrutura de sombra sendo um pequeno espaço religioso contempla o espaço do culto e oração, com pequena nave central, sacristia e ainda sala de morgue e autópsias. Assim, neste artigo atribuímos alguma atenção à descrição da mesma.

O interior da capela é singelo, mas ao mesmo tempo assume um conjunto de elementos como a figuração, as cores e o aspeto cénico.

Ao cimo num listão estilizado, salientam-se as palavras gratia plena e ao centro, num primeiro plano evidencia-se a recriação cénica do Milagre de Fátima com os três Pastorinhos ajoelhados, cuja obra é encimada pelas figuras angélicas de São Miguel e São Gabriel. Estes, por sua vez, suportam a coroa de Nossa Senhora e a pomba, símbolo do Espírito Santo.

O painel do lado esquerdo evidencia três elementos do clero, em representação das ordens mendicantes, por último, no plano cénico, mas em posição superior, a figura de Cristo está representada de vestes vermelhas e segura a cruz nas mãos, como símbolo do seu sofrimento.
Este painel apresenta cores frias, sóbrias e figuras estilizadas, de recortes anatómicos alongados, de pescoço longo, pés igualmente compridos e estreitos e bem desenhados. Os painéis de Jorge Pinheiro manifestam uma envolvência cénica e uma determinação na representação e visão do mundo.

O artista procura transmitir uma estrutura formal dos seus elementos icónicos pois cada santo, cada imagem possui uma identificação, um recurso figurativo que resulta numa manifestação de pensamento, também aspetos como as ordens, a figura de Nuno Alvares Pereira e a estilização do Milagre de Fátima compõem um conjunto de ícones de religiosidade e dos valores da nação, nos anos 50 e, que o artista teve a sensibilidade de transpor para o plano cénico dos painéis. Dado a sua importância, quando foi feita uma pequena intervenção na capela, os painéis foram restaurados por três técnicas superiores: Sónia, Marta e Marisa.

Mas à história da Fundação e Hospital ficam associados ainda o trabalho das irmãs religiosas da
Ordem de Nossa Senhora das Vitórias, nomes como o Dr. Pinto de Campos, a Enfermeira Odete Inácio, o Dr. Pega experiente em tratamentos e cirurgias e que procurava aqui o lugar para tratar os doentes dos Fornos Elétricos de Canas.

O espaço envolvente à Fundação era verdadeiramente aprazível, com um jardim, junto ao piso superior e na parte inferior tinha pinheiros mansos e um pequeno lago, aspetos que tornavam o edifício agradável a quem o frequentava.

Nos anos 90 0 edifício deixou de ser hospital, com a criação do Centro de Saúde uma IPSS, cumprindo a sua missão cuidando dos idosos.

Texto de: Paula Teles

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