O Pinheiro Manso é uma das espécies mais importantes da Europa, da família das pináceas é uma árvore de porte médio e copa larga. Esta espécie desenvolve-se em solos de temperaturas amenas e com humidade. A floresta de pinheiro manso proporciona também a diversidade de produtos, como sejam os frutos, a caça, os cogumelos, o mel, as plantas aromáticas, a resina, as urzes, o rosmaninho, a giesta, o tojo e os fetos, pois o coberto vegetal tem uma função extremamente importante no aspeto paisagístico.
A Carta de Povoamento de Ulveira de Currelos, em 1105 comprova a densidade da floresta, destes lugares, que integravam as Oliveira do Conde e Currelos. conforme descreve Maria Teresa Nobre Veloso:
“ O vasto território situado entre a margem Sul do Douro e o limite fluvial do Mondego estava praticamente ermo e a sua sobrevivência à sombra da Cruz dependia do êxito dos esforços de colonização. Mas era difícil atrair os povoadores, para esta zona. Tratava-se de uma imensa área ocupada apenas ( ou quase) por um deserto verde, que a toponímia ainda documenta, mas cuja maioria das espécies arbóreas citadas nos diplomas legais daquela época pereceu irremediavelmente tragada, quer pelo esforço repovoador, quer pela incúria humana : Alvarelhos, Carregal, Carvalhais, Pinheiro, Rebordosa, Cercal, Papízios e outros lugares situados, não só no actual concelho mas também noutros limítrofes, ilustram ainda claramente nos nossos dias a existência de um coberto vegetal hoje praticamente desaparecido.”
Em 1516, D. Manuel I, através da Carta de Foral vem buscar a estas terras férteis, de Oliveira do Conde, alimentos para a corte, os cereais, o vinho e o galo capão, a serem entregues pelo São Miguel: “ Acórdão em relação os do desembargo do Rei que vistos os embargos postos por parte do concelho declaram que quanto ao que se aponta em a sentença em que se diz que cada um morador de Oliveira e Oliveirinha e Vila Meã hão-de pagar os ditos foros “…..
Esta descrição demonstra que não se pode dissociar a paisagem natural da paisagem humanizada que tem uma forte influência da atividade humana, porque existem influências sociais e culturais que transformam o espaço, pela atividade populacional. Por este território, desde a Pré – História que o Homem faz aproveitamento dos recursos da terra, através de técnicas diversas e a presença dos diversos monumentos megalíticos existentes no território fazem enriquecer a paisagem dotando-a de grande valor cultural. A estes associam-se as inúmeras Casas Senhoriais, com quintas de largos hectares, onde se encontra sempre o jardim, área cultivada, a vinha e a mata, fator de sustento e autonomia económica, daquele poderio.
Há algumas atividades locais associadas ao pinheiro manso que se mantiveram até final dos anos 80 (século XX), como fonte de rendimentos e empregabilidade, como seja a atividade dos Resineiros e o comércio da resina, considerada o sangue do pinheiro, um líquido pastoso que os resineiros recolhiam a partir de um corte na árvore deixando uns palmos do pinheiro descascado e a sangrar para um púcaro de barro, durante uma época. A recolha era feita com a ajuda de uma espátula para uma espécie de cântaro, em lata e feita a recolha geral, por parte do empresário e comercializado para a indústria das tintas.
O corte de madeira, em moldes arcaicos era um processo demorado. O pinheiro era aproveitado para a construção de telhados, tectos e soalhos, das habitações e, como tal as serrações tinham um papel importante no sector, para o fabrico dos caibros, das tábuas e das ripas, factos que a evolução fez cair em desuso. Por conseguinte, a tanoaria, ou o fabrico dos móveis de pinho, ou para a marcenaria de produção de móveis de estilo, em pequenas e médias empresas grandemente implementadas na Freguesia constituíram fatores de sustentabilidade e riqueza local, até à atualidade.
A importância da cultura do pinheiro manso é tão relevante que já no passado foi tratada em Assembleia de Freguesia, conforme se encontra documentado nas atas que a seguir se transcrevem: “ 25deoutubrode1897 (Verso da Página 148)
"Nesta ata deu-se conhecimento de um oficio em que a Câmara Municipal deste concelho de Carregal do Sal, participava a esta Junta ter deliberado representar a sua Majestade que fosse restabelecido o serviço telegráfico na sede deste concelho, que se acha suspensa há já algum tempo.
Então a Junta deliberou por unanimidade aderir à representação da Câmara Municipal.
Deu-se também conhecimento de um questionário enviado a esta Junta pelo Exmo. Administrador sobre as canadas, baldios e charnecas suscetíveis de desvalorização e dos principais cursos de água. Ainda que a resposta a este questionário se podia reduzir a que nenhuma necessidade à nesta freguesia de se proceder à arborização dos terrenos incultos, por isso é que o pinheiro nasce e cresce espontaneamente em todos os terrenos da freguesia, havendo outro sistema de arborização que vantajosamente o possa substituir nos terrenos que atualmente não são cultivados.
A Junta ainda respondeu que nesta freguesia não há baldios senão públicos com a denominação “Ramalheira”, “Relvas”, “Val de Cabrita”, “Laijadinha”, “Ribeiro do Carregal”, “Gandaras”, medindo todas aproximadamente 100 hectares, o terreno é na maior parte pedregoso, mas suscetível de criar pinheiros desde que o povo os deixasse crescer.
É de bastante importância para as povoações de Oliveira do Conde e Fiais da Telha, o pasto que estes baldios prestam para as ovelhas e cabras. Esta freguesia importa lenhas e madeiras que o valor de cada carro de pinheiro para madeira regula por 1500 reis e para lenha 1000 reis."
23 de março de 1987 (Verso da Página 74)
"Nesta ata deu-se conhecimento que foram plantados cerca de 3500 pinheiros no Meal, com vista à florestação dos baldios, estes pinheiros foram cedidos gratuitamente pela Direção Geral das Florestas."
Há ainda tradições que estão muito presentes na vida das famílias, mas que se transformaram com o tempo, como seja o corte de um pinheirinho para a árvore de Natal e associada a esta a recolha do musgo para o presépio, também a recolha de rama dos pinheiros, para aquecer o forno do pão e confecionar o mesmo, as bolas e os folares.
As pinhas (fechadas) recolhidas no mato eram colocadas nos fornos dos fogões de ferro e a lenha, para abrirem e posteriormente daqui se retirarem os pinhões. Pelo Natal, na maioria das casas era entregue aos mais jovens, a tarefa de partir os pinhões, para que todos colaborassem na preparação desta festividade destinando-se estes a rechear as broinhas de Natal e enfeitar a mesa da Consoada.
O pinheiro manso constitui mesmo, uma das grandes potencialidades da Freguesia, através da sua presença nos campos e podendo o turista fruir da natureza na prática de pedestrianismo, btt , ou de passeios no Circuito Pré Histórico Fiais/Azenha, na GR da Pinha e do Pinhão, ou na GR dos Narcissus. Assim sendo, o património histórico cultural, natural e a gastronomia constituem um conjunto de recursos associados ao passado e à memória local.
Quadro representativo da situação atual:
Urbeirinha -
Urbeirinha -
Urbeirinha -
Lage Alta -
Corgas ou Quintais -
Baldio Olivais e Torrão - c/ pinheiro manso
Cerechio - c/ pinheiro manso
Orcas ou Aldrogues - c/ pinheiro manso
Poça -
Carreiros -
Porto Cano -
Lajadinho -
Ramalheira - c/ pinheiro manso
Vale da Cabrita -
Vale da Mena -
Pontinha -
Lage Grande - c/ pinheiro manso
Quinta do Pereiro -
Seixal -
Azenha -
Lages -
Texto de: Paula Teles
Fotografias gentilmente cedidas por Paula Teles
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