Quaresma

A Quaresma é um período litúrgico que inclui um ciclo de tradições e um conjunto de rituais cristãos, na Freguesia de Oliveira do Conde, com uma ambiência de reflexão e vivências religiosas que constituem um momento único.
Aproxima-se a festividade da Páscoa, os campos enchem-se de flores. Preparam-se os campos e as casas, o povo vive intensamente o sofrimento e a Paixão de Cristo. Independentemente das crenças e da vivência de cada um, as cerimónias da Quaresma, de modo especial, nas últimas três semanas, traduzem-se numa expressão coletiva de sentimentos e respeito constituindo um autêntico quadro vivo, onde se entoam ritmos de dor - a paixão.
A Procissão do Senhor dos Passos realiza-se de Oliveirinha para Oliveira do Conde, no Quinto Domingo da Quaresma e o povo participa, nesta manifestação de fé à qual se segue a celebração eucarística.

O andor de Cristo, com a Cruz às costas, de coroa de espinhos e veste roxa é transportada por homens, aos ombros, ou mais recentemente num carro dos Bombeiros, enquanto que o da Nossa Senhora, a Mãe sofredora, segue o seu filho, também de veste roxa, de toalha branca nas mãos e é transportada por mulheres, adquirindo este ato de carater penitente de todas as mães, pelos filhos em caso de doença, ou na Guerra Colonial, mantendo estas o hábito nas suas intenções.
A imagem de Cristo dá forma ao relato de Mt. 27,27 - 31..." Pilatos tomou Jesus e mandou-o açoutar. E os soldados tecerem uma coroa de espinhos e colocaram-lha na cabeça e vestiram-no com um manto de púrpura. Vinham ter com ele e diziam: - Salve rei dos Judeus. E davam-lhe bofetadas"...
Pilatos disse: Eis aqui o homem!... Sabei que não encontrei nele crime algum.!...
Eles tomaram Jesus e conduziram-no com a cruz ás costas, até ao calvário onde o crucificaram e, com ele outros dois, um de cada lado e Jesus no meio".

Procissão de Enterro do Senhor

A Procissão de Enterro do Senhor é uma tradição vivida em Sexta-feira Santa, num ambiente de luto, silêncio e solenidade. A procissão é iniciada por uma cruz em madeira, de grande dimensão, com manto branco e ladeada por duas lanternas.

Atrás da cruz e vestidas de anjos segue um pequeno cortejo de crianças transportando os martírios do Senhor. Estes são os seguinte: a sentença, a lança, a esponja, os dados, a túnica do senhor, o cesto com o martelo e os pregos, os chicotes a bolsa de Judas, o Cálice, a coroa de espinhos e o sudário.

O esquife do Senhor é um andor antigo, onde se transporta o Corpo de Cristo, morto, uma imagem que remonta à própria origem destas tradições, ao século XVIII. O esquife é protegido por um palium preto, a partir da Capela de Nossa Senhora Mãe dos Homens, na Casa Grande e atrás segue a Mãe - Nossa Senhora vestida de luto, com uma toalha branca nas mãos, para limpar o rosto de seu filho e as suas próprias lágrimas, transportada por mulheres , esta imagem sai da Casa de família Soares de Albergaria, numa tradição que passa de geração, em geração.

A ambiência vivida é especial, as duas imagens, dada a sua expressão são extremamente emotivas e tocantes, a escuridão da noite, a luz das velas, o cheiro a incenso no ar, são elementos que exercem sobre os participantes e fiéis o luto e a tristeza próprias deste momento. Também a banda filarmónica executa música fúnebre, sons que penetram no coração de quem participa e presencia esta procissão.
Depois de recolher à igreja, seguem-se as cerimónias litúrgicas da Paixão de Cristo que muitas vezes conta com a representação cénica de atores amadores e termina com a adoração da cruz.

Estas duas procissões têm uma tradição que recua no tempo e delas existiu registo histórico do P. Luiz Cardoso de 1758, conforme Oliveira do Conde " ...celebra com a mayor a Semana Santa com quatro sermões e duas magníficas Procissões e Enterro do Senhor".

O Domingo de Páscoa encerra um ciclo, a Festa da Ressureição e da vida transmite uma ambiência de alegria e partilha que vai permanecendo no meio rural, com o beijar da cruz de casa em casa. A época do ano proporciona-se para a festa, com os campos em flor, a preparação das casas, no ar há cheiro a bolos quentes e alecrim. As mesas enchem-se de petiscos da região, não falta o queijo da Serra, o cabrito assado e o vinho do Dão.

Texto de: Paula Teles

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